Um Mundo Ideal

O dia começou nostálgico. Para os que não notaram: o título do post de hoje faz menção à uma canção de um clássico Disney (quem se sentir tentado a relembrar pode dar uma busca no youtube, vale a pena). Só não sei bem se dá para dizer que o dia "começou" com Aladdin, passei outra noite em claro, mas se for para colocar a risca em algum lugar...

Dias estranhos tem passado por mim, caros leitores, muito estranhos, estou dizendo. Tenho me embriagado de solidão, tristeza e auto-piedade, coisa para cortar os pulsos mesmo (os meus amigos, pois têm de ouvir mais de minhas lamúrias que o habitual).

Desta vez tenho uma desculpa, é raro, mas acontece. Posso creditar tudo à uma suposta despedida desse estilo de vida "despretencioso", chamemos assim. As madrugadas de tédio terão seu fim em breve, o fim mais chato e previsível e justo por isso o mais correto: arrumei um estágio. Com a cabeça ocupada, isso deve se dissipar.

Afinal, tudo o que faço é para esquecer, nem sempre eu sei do quê, mas esse é a tônica de qualquer ocupação minha nos últimos tempos. As horas no videogame, no computador; os filmes, toda a tralha da madrugada, enfim. Tudo para esquecer.

Não é que eu seja ansioso, que meu ímpeto criativo traz angustia se aprisionado, nada disso: quero esquecer, esquecer até de mim mesmo se possível. Já deu, seria precioso se fosse possível tirar férias de si mesmo. Quinze dias por ano, como em qualquer emprego.

Reconheço que tudo isso é falho e eu deveria estar empolgado com toda a pompa das novas direções da vida... "Oh! Vai ter responsabilidade agora, menino!" e tudo aquele blá blá blá. Também tirei a habilitação, nota dez em emancipação para mim! Ou melhor, nota oito, faltou sair de casa e me casar, aí sim eu serei um hominho.

Quero me esquecer disso também! Agora me lembrei, me esquecer de como eu diminuiu minhas conquistas na sutileza de um comentário irônico que parece despretencioso, mas que diz muito do que eu realmente penso. Desprezo tanto... que eu esqueça disso.

E é engraçado que aqueles que mais tentam se esquecer marcam suas lembranças a fogo na pele. Remoem a angústia em uma dor intermitente emanada pelas terminações nervosas danificadas e fazem questão de ostentar as cicatrizes. Assim faz o bêbado que conta a todos como foi pisado pela vida, assim faço eu escrevendo sobre o esquecimento.

Tenho cá o meu "mundo ideal", meus sonhos e minhas expectativas irrealistas. Culpar a desilusão já ficou velho e nem faz muito sentido sendo eu tão novo. Gasto também é me salvar pelo ridículo, dizer que não faz sentido, é bobo, infantil , é mentira e deve ser superado. Não funciona, sentimos aquilo que sentimos, não o que processamos. Resta esquecer, mesmo que nesse esquecimento fajuto.

No mundo ideal, se eu posso fingir que esqueço também posso fingir que acredito que esqueço, por que não? Por que é ridículo, oras! - e o ridículo ainda salva? Sei lá, estou confuso. Logo não estarei e será fantástico, oh, a beleza da certeza!

Será?

De que vale o cinismo, não é mesmo? Reconheço que sentirei falta de algumas coisas dessa vida, eu não aturei tanta merda sem extrair algum prazer disso tudo. E ainda na linha da sinceridade, sobra confessar que eu continuarei sendo o mesmo. Talvez escrevendo menos, reclamando menos, perdendo menos tempo, mas ainda o mesmo.

Será?

Não dá para afirmar nada, ainda mais eu que sou fã de um "talvez". Uma aventura genuína me espera, caríssmos, me desejem sorte! Não que eu vá partir agora, nessa linha ou mesmo nesse texto.

Será?

Ok, parei. Agora, perdi completamente a linha de pensamentos, se é que existiu uma. Vou escrevendo exatamente aquilo que penso, mais uma prova de que eu deveria dar um tempo (ideia bastante frequente nos últimos posts), já esqueci como pesar as palavras.

Tentando parecer mais sábio do que realmente sou, ouso esboçar uma frase-pensamento daquelas que ilustram parachoques de caminhão e biscoitos da sorte - se escrever ficar muito fácil, você provavelmente está fazendo errado. Lembrando que se está difícil não necessariamente implica em estar correto... ou que exista um jeito certo.

Será?