Apesar de tudo, conservo meu senso de humor suspeito lidando com ideias como se nada fosse sagrado. Não sei se me esquivo, suspendo a crítica ou até acuso o golpe provocando mais sintomas com a ideia que se segue, mas não evitei de me empenhar em seu exercício. Ei-la, meus caros! Escrevi um testamento (não o meu, obviamente!).
Ainda na morbidez que outrora me fez desentranhar um epitáfio, invisto outra vez nessa máscara/personagem de alguém perseguido pela morte vendo-se acuado pelas obrigações póstumas. Se antes coube uma espécie de resumo da vida, agora trata-se de analisar o resultado dela. Vejamos como esse eu lidou com o problema:
"Testamento"
Aos céus, confio o meu legado nesta prosa pobre. Bem este, aliás, quase único dentre os arrolados para o empenho da paz de minha alma. Não possuo muito, daí o tom de confissão. Apequeno-me no ato de doação por revelar meu grau de inépcia para com as coisas da vida. Pouco criei, pouco vivi, pouco deixo além de meus restos que adubarão o solo.
Ressalvo, no entanto, que restos outros hão de se espalhar entre os vivos tal qual meu patrimônio físico esfarelado destinado às almas pequenas que primeiro se aventurarem em litígio ou mesmo a angústia adensada na palavra até aqui transparecida, mal inevitável deste ímpeto criminoso que me levou ao "silêncio em movimento", insulto aos que deveras merecem a alcunha de escritor. Restos outros, mas ainda restos, refugo de sonhos acabados na frustração.
Entretanto, apesar de tudo ainda posso dizer que vivi amores com todas as letras e cores fugindo das limitações de minha existência vulgar e fútil. Por vezes amei, por vezes vivi, por vezes fui algo além de mim mesmo. Portanto, com a sincera intenção de enriquecer meu legado de alguma forma assim agraciando aos que ficaram e não disfarçá-lo em uma espécie de farsa, faço então destas experiências de execeção registradas na imensidão de cartas e fotografias - verdadeiro compêndio de meus (des)caminhos - o bem maior deixado aos meus descendentes:
Façam proveito deste retrato de esperança de um cético que acabou por se render ao inexplicável! Acreditem, sejam, como de fato fui e continuo sendo na eternidade destas palavras... Adeus.
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