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6 de junho de 2011

Preconceito

Não é muito usual que eu trate de questões mundanas, comuns, e nada é mais corriqueiro que o preconceito, infelizmente. No entanto, uma explanação sobre o tema pareceu-me indispensável. Já me pronunciei algumas vezes sobre as falhas na comunicação entre homens e mulheres, mas a questão aqui é um pouco mais ampla: trata da visão ultrapassada que é sustentada por uma parte considerável da população (composta por homens e mulheres).

É um fenômeno bastante curioso a absorção de valores do opressor pelos oprimidos, engraçado mesmo, ridículo... se não fosse trágico. Como historiador, estou acostumado a fazer uma abordagem mais "científica" sobre o assunto, mas esse espaço é livre de formato e exigência, então me reservo o direito de me indignar e achar isso estranho. Talvez seja o primeiro passo para a mudança, enfim, chega de distração...

Mas, voltando, vejamos o quão é estranho como tomamos esse veneno de forma indiscriminada, incorporamos um discurso que nos divide e enfraquece trajado por pessoas com preguiça de pensar. Conveniente, nada vem por acaso, para alguém isso é muito conveniente. Você é esse alguém? Eu duvido muito, o comum que sai por aí repetindo dizeres alheios não costuma ganhar nada, só perde se privando de uma visão mais ampla.

O comum assiste Pânico na Tv e acha tudo muito engraçado, nem desconfia que o que se vende ali não são só os produtos abertamente anunciados, mas toda uma visão de mundo emanada por uma sociedade machista cheia de contradições. Não vejo problemas em assistir e dar umas boas risadas, mas é necessário refletir um pouco, pois principalmente o que parece estritamente simples e inocente pode muito bem ser o mais malicioso.

O CQC também não escapa a essa regra, o que por um lado parece uma fuga, é na verdade uma reafirmação do mesmo. A que ponto chegamos? O gigantesco plural que seria o Brasil, na verdade, se resume a dois programas televisivos! Se o Pânico na Tv é o retrógrado e óbvio, o CQC é a preguiça de mudar. Como se bastassem uma meia-duzia de protestos inóquos e promessas vazias para que o Brasil melhore... sem falar na hipocrisia.

Alguns talvez tenham lembrado de Rafinha Bastos.

Para quem não está situado, o cidadão mencionado, repórter-estrela do "programa investigativo" A Liga, além de piadista assistente de mesa no CQC, se envolveu em polêmica recentemente por fazer uma piada sobre estupro. Acho que não precisaria dizer mais nada do absurdo da situação... mas falarei mesmo assim, aí vai:

O preconceito, ao meu ver, se trata muito mais o que não se diz. A conduta do humorista em questão foi completamente inadequada, ofensiva, mas de nenhuma forma preconceituosa. Fazer uma piada de taboos, e uma violência tão sinistra quanto o estupro é certamente um dos maiores, torna ele, na verdade, superior a sua pífia obra como repórter crítico.

Ridicularizando o que deveria ser sério nos faz justamente nos perguntar o que é que realmente importa, o que deve ser preservado e protegido quando o próximo dilúvio (ou revolução) vier e nos lavar das nossas visões arcaicas e preconceituosas. E sim, isso é nosso, é nossa responsabilidade, aqueles programas não estão ali por acaso... e um certo deputado federal não subiu ao poder sozinho. Ou talvez seja só uma piada de mal gosto.

Pergunte-se agora o que é que te ofende, se precisa ser um tapa na cara como uma piada de estupro ou se já não feririam as agulhadas de machismo do Pânico na Tv. Ao meu ver, o que é aberto e escrachado é que deveria passar desapercebido, há uma certa inocência em Rafinha Bastos, coisa de criança que diz exatamente o que pensa. E o que não se diz? E quanto a maneira que a mulher é apresentada nos programas dominicais?

Sou homem, caucasiano, heterossexual e de criação católica, se eu tivesse escolhido Direito ao invés de História estaria em franquíssima vantagem na corrida pela dignidade e respeito em relação a boa parte da população. Aí que mora o absurdo, uma lógica afunilante que te ceifa e determina as oportunidades na medida em que você não segue o prescrito, em não faz o que esperam de você, em não se é o que esperam do você.

O maior protesto é trair as expectativas sem receio, a hesitação é vitória do opressor. Adquiramos um pouco da irreverência do violador do bom senso! Assim como ele soltou ao vento o que obviamente encontraria resistência, também tenhamos nós esse traque. No final das contas, até se poderia dizer que ele estava errado, mas o que é um pau torno no meio de uma selva de ignorância? Abre o olho, minha gente! Tem muita coisa pior.

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