Chegou de novo, época de Natal, Ano Novo, onde tudo é muito mundano e teatral - mais do mesmo mais uma vez! - gritaria impassivo pelas ruas, vitrines e enfeites da avenida Paulista, se pudesse... se quisesse. Alvejado por tantos sorrisos e abraços de meus familiares, admito, sou obrigado a amolecer. Nesse clima de desassossego e esperança, estava lendo um artigo do Frei Beto outro dia e certas reflexões me pareceram inevitáveis. Ensinaram-me, e sou obrigado a concordar por força da experiência, que escrever é um bom modo de se aprender algo novo. Sendo assim, felicitados ou amaldiçoados pelas convergências de meus ensinamentos e o clima das festas, os introduzo a mais uma incursão em meus delírios.
Indagava-me, junto do texto, do que afinal seria crescer, maturar, envelhecer digna e respeitosamente. Esquartejando o ser em múltiplas infâncias e adolescências por psicologias e análises mercadológicas das mais diversas, linhas cruzadas que por dizerem tudo não dizem ou resolvem nada, fica difícil perceber uma linha reta. O tempo é constante e, por mais que nossa percepção flutue e varie, não podemos negá-lo por capricho.
Não se engane, desprezo respeitabilidades e convenções, é justo nestes nichos que repousa a imaturidade daqueles que se recusam a crescer (ou aceitar que cresceram). E não, os adultos de hoje não são como os de antigamente e nem deveriam, é no conflito geracional que se encontra o segredo de nossa evolução sombria, mas sim, são muito débeis... e talvez muitos dos de antes também o fossem em segredo, esse segredo que não mais existe graças ao admirável mundo novo esquadrinhado neste século da comunicação.
Quando criança, e muitos, como eu, devem ter feito esse juízo, eu julgava que ser adulto se resumia a meia-duzia de rituais e atividades as quais eu não me encontrava apto e algum dia, que Deus me ajudasse, eu estaria. Coisas como pagar as contas, pegar filas, fazer o pedido no caixa, ir a lugares sozinho, dirigindo ou de ônibus, e assinar cheques (que até certa idade, acreditara que dava poder infinito de compra à minha mãe). Não era a toa que minha brincadeira favorita era fingir de taxista com meu gasto e milenar volante de plástico, usando a pá de madeira no vão do sofá como câmbio de marcha e alugando minha falecida bisa como passageira. Também adorava banco imobiliário... acho que ainda gosto.
Hoje as crianças nem precisam fantasiar tanto, está tudo na mão e mastigado com jogos e simuladores cada vez mais sofisticados e banco imobiliário com maquina de cartão de crédito. Já serão ensinados, sem esforço, acerca dessa visão distorcida do que é ser adulto: estar armado de um cartão de crédito e dirigir como se não houvesse amanhã... de preferência embriagado! Afinal, poder beber é outro grande desejo atiçado desde cedo e unir as duas coisas é simplesmente irresistível... se bolinou alguma mulher na balada então, ou achou normal que acontecesse, você passou no teste com grandes honras!
Sim, é claro que como sempre eu forço a situação, mas é incrível como as coisas se encaixam, como conhecemos pessoas que cresceram com essa ideia de maturidade na cabeça e não se desfizeram dela, algo que fiz a duras penas e agora conto à vocês no decorrer do texto. Pois que, se não deixei transparecer com minhas ironias ou você não percebeu com seu bom senso até aqui, esclareço que crescer não é nada disso.
Crescer é complicado e exige prática, não vamos descobrir logo de cara o que é ser adulto em nossas primeiras concepções ainda crianças. Reiterando, a maturidade vem com a experiência, no entanto experimentações desmedidas podem causar certo amortecimento de nossos sentidos. Mas nem entrarei muito no mérito da sexualidade e de como podem ser perversos os caminhos das crianças crescidas. Concluindo, é preciso refletir a cada passo, em tudo, creio ter ficado muito mais inteligente depois que passei a escrever.
Inteligência é outra coisa que é muito mal entendida e que, assim como a maturidade, não tem muito a ver com capacidades. É terrível, assim como as pessoas acham que ser adulto é beber, transar e dirigir, julgam que ser inteligente é citar o maior número de coisas do wikipedia de cabeça ou conhecer um grande número de palavras do dicionário! Só que ele não é chamado pai-dos-burros a toa, quem é muito prolixo está se esforçando demais para provar alguma coisa, mais do que sendo ou dizendo alguma coisa.
Crescer e saber são coisas que andam juntas, é um único caminho de reflexão e responsabilidade. É preciso se ver refletido em cada uma de nossas atitudes, sejam elas quais forem, e arcar com todo o peso de suas consequências; é ter ciência própria de nós mesmos e o que fazemos, é ser capaz de ligar as coisas, ver o quadro completo, mais do que seguir manuais e pré-conceitos. São reflexões que podem pesar à princípio, mas nos fortalecem, não são um fardo, mas algo saudável e profundamente necessário.
Hoje, sou um adulto, por mais que ainda não more sozinho, esteja desempregado e a tal da independência financeira pese no juízo dos outros. Acabo a faculdade no meio do ano que vem e não estou nenhum pouco assustado, apenas ansioso (e muito, confesso), deve ser um bom sinal. Como adulto, portanto um ser maduro, completo, ciente de mim mesmo e do mundo que me cerca, pude amar como agora amo, um amor, que tal como a maturidade e inteligência, supera em muito as reflexões fabricadas pela grande mídia que nos quer crianças chorosas, burras e de paixões fugazes.
Amo aquela morena pernambucana, amo minha família, meus amigos, amo a vida! E, por mais que eu sofra em meus devaneios e ache que tudo vai de mal a pior, por mais que eu odeie o fato de toda essa euforia ser por mera convenção, vou abdicar por alguns momentos de meu eu sombrio e desejar de todo o coração às poucas e gentis almas que aceitam agora e provavelmente já aceitaram em algum momento me fazer companhia:
Boas festas e um ótimo ano novo!
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