Vivo por aquele segundo de paz das palavras que somem comigo, sim, o sumiço! A tranquilidade e evanescência completa de quem deixa a si próprio escapar por entre os dedos em letras, pois precisa se agarrar a sanidade. Alguns fazem juízo de meu gosto pela escrita, dizem que me acalma, me faz bem... assim supõem, pois gosto tanto. Estão errados, eu não gosto - amo! Não viveria sem, por isso faço e nenhum outro motivo. Talvez isso não seja amor.
Não. Amar eu amo aquela garota que subiu no avião e me deixou sozinho, minha relação com a escrita é de uma natureza diferente. Confundi-me achando pontes entre as coisas - nada! Tinha-na como meu interlocutor não mais imaginário, porto seguro de todos os meus segredos neuróticos e neuroses secretas, achando então que não necessitaria mais de escrever. E vejam como escrevo tão pouco agora! Estava certo?
Quase, apenas me destituí de mais algumas das futilidades que cercam a atividade, o pragmatismos das artes que as colocam como formas elevadas de expressão. Não preciso mais ser ouvido pelo mundo quando a tenho em meus braços confessando delírios ao pé do ouvido dela, tenho tudo... mas continuo escrevendo, querendo escrever, pensando escrevendo, maldizendo a vida nas entrelinhas do cotidiano em um silêncio profundo e mortal.
Talvez seja sim um grande desabafo e o fato de estar ainda mais distante dela do que o costume me empurre para cá novamente, mas julgo ter superado a coisa da auto-expressão. Ouvi também que a escrita serve para controlar os "voos criativos", será mesmo? Controlo-me na vida, aqui reina o descontrole absoluto, sem freios vou ousando dizer ter criado um estilo próprio ou sendo expoente de um novo movimento. Somos as crias do Tédio, vulgares excepcionais em um mundo sem qualquer sentido! A vida segue uma escrita cheia de lacunas.
Não há qualquer ideia ou sentido aqui, veja você que faz uma visita ainda mais despropositada, deve estar mais perdido do que eu! Sou fiel à essas palavras, mais do que as pessoas, mais do que a mim mesmo. Eu escrevo porque é aqui que eu existo, se expresso algo na escrita é a minha existência, se tenho mesmo de desabafar sobre algo é sobre simplesmente existir! Criança mimada, sempre tive quem me reconhecesse, mas ainda assim não me parece o bastante. Problemas de primeiro mundo, ridículo ridículo!
Acabou; se fie no desapontamento vazio dessas palavras e vá embora, não há mais nada para se ver aqui, já mostrei que existo, agora quero sumir, o segundo movimento desse existencialismo banal. Acho que sou um fantasma. Nos filmes, basta essa realização para que encontrem a paz e vão embora para um mundo que não os atravesse. Pois bem, estou pronto. Desejo morrer intensamente: uma vida é muito pouco.
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