E hoje descobro algo de mim que nunca foi secreto, mas mesmo assim assombra. De que minha insaciedade, na verdade, é o vácuo de um corpo sem alma; de que minhas vontades se saciam fisiologicamente, que garfo amores como o arroz e o feijão e depois tudo são dejetos; de que, se atraio as coisas para mim, atendem elas antes um princípio físico, como um buraco negro que nem a luz perdoa, do que algum sentimento por mim; de tudo, nenhum mistério.
Hoje, não sinto nada.
O Tédio me dá a liga, cola a pele nos ossos e, me fazendo circular em meia dúzia de neuroses, me impede de desmanchar no ar. Percebi enquanto bebia e matava a sede, percebi enquanto ficava e matava as horas, nada me sacia por não haver vontade: não há modo de se matar algo que já está morto. Se foi a sede, se foram as horas, me fui eu para outro lugar há muito tempo, mas ainda tenho toda essa juventude para gastar. Resta-me escrever.
Dos livros que não li, das pessoas que não conheci, não guardo verdadeiro arrependimento, o que me pesa é a ignorância, a fatal e irreversível ignorância que, mais do que condição, trajo como essencialidade. E por ser ignorante de tudo me tornei um homem livre, não tanto homem e nem tanto livre, mas um homem livre... que livre do mundo se torna servo de seus próprios caprichos em seu reino interior. Assim, existo agora sem existir.
Mas das cartas que nunca escrevi, sentimentos frustrados guardados como envelopes vazios na gaveta, de remetente gravado e selos colados, delas conservo a ternura e talvez me provoquem algum amor. Que surpresa agradável (re)descobrir que algum dia fui alguém! E dirão que se escrevo tanto é porque sinto tanto, e dirão que isso passa, e dirão.. e dirão.. e dirão até cansar; eles sempre cansam. Mas eu não.
Hoje, não sinto nada.
Nem o cansaço.
PS: Seguiria escrevendo pra provar que sou sublime, mas meus personagens, como eu, já vão perdendo a deixa apertando o botão soneca do despertador. E sigo só, somente eu e minhas ideias preguiçosas...
PS: Seguiria escrevendo pra provar que sou sublime, mas meus personagens, como eu, já vão perdendo a deixa apertando o botão soneca do despertador. E sigo só, somente eu e minhas ideias preguiçosas...
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