São os vultos que me fazem companhia no silêncio dessa madrugada de céu vermelho... amanhã deve chover, será? Faz diferença? Tem dias que não sei dizer, talvez nem sinta a água cair sobre minha cabeça e a lembrança da chuva e das sensações que provoca não transcenderá a frustração de meias molhadas pela poça que passou desapercebida. Da vida, só tenho vestígios e me sinto vivo somente nos acidentes. Sentir é um imprevisto.
Ainda assim, não me sai a tristeza dessa confusão, pois sentir-me triste seria sentir algo e nessas horas só me sobra o vazio que devora tudo, as horas, a fome e até mesmo desejo. Estranho muito tudo isso e de repente tenho medo da sensação de morte que se achega nesses pensamentos, como se velasse meu sono, como se meu distanciamento fosse um lento preparo para a minha partida. Sou mórbido por opção, confesso, fatio a alma como os parágrafos tão quadrados que dão forma aos meus sentimentos. E a maior ousadia que posso cometer nessa noite é terminar um parágrafo maior que o anterior.
Ousadia?
Não há expectativa para ser desafiada, em relação a mim só guarde uma vaga esperança, pois não sou nada e justo por isso posso ser tudo. Daí a ilusão de um futuro que os outros me imprimem, que eu mesmo me imprimo e logo me frustro, pois sei exatamente o que me habita. As potencialidades que subitamente emergem não são senão cadáveres dissolvidos na minha alma ácida que boiam a esmo antes de voltar ao fundo somente aos ossos. O brilho que vê nos meus olhos são reflexos de estrelas que já morreram a milhões de anos.
Metáforas são muitas para explicar a fraude que é o meu futuro e o quanto é ridículo sonhar com isso, sou apenas o agora e que isso baste. E confesso que vez ou outra sou tomado de uma alegria louca, uma felicidade sombria que me leva aos referidos pensamentos de morte: é Aceitação, o último estágio. Acabou... mas o sono insiste em não vir.
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