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31 de março de 2012

Emoções Cívicas - vamos celebrar!

Não sei até onde anda a curiosidade do leitor acerca da comemoração antecipada durante a semana da "Revolução de 1964" (que hoje completa 42 anos) pelo Clube Militar, mas, por minha parte, sinto-me suficientemente instigado para escrever. Então aí vamos nós partindo da seguinte pergunta: seria afinal uma simples excentricidade, falta de tato ou, como alardeiam e bradam os companheiros militantes e vítimas do regime ditatorial que assolou nosso país por tantas décadas, uma provocação violenta e gratuita?

Ora, talvez seja mais complicado do que isso (ou simples, a depender do modo como encarar minhas observações), pois, como historiador que sempre pondera criticamente acerca dos eventos, ciente de que as coisas não caem subitamente sobre nossas cabeças, acho que a comemoração faz perfeito sentido.

A tal "Revolução" tida mais do que corretamente pelas pessoas de bom senso como "Golpe de 1964", atingiu seu objetivo, freou qualquer espécie de reforma socialista que o governo de João Goulart pudesse estar encadeando e nos manteve em suspensão até que o comunismo se tornasse uma fantasia anacrônica diante do colapso da URSS que, em tese (ou assim nos doutrinaram), provou que Marx era um doido lido por gente que gosta de fumar maconha e de regimes ditatoriais hipócritas. Sendo assim, é algo para se comemorar, foi um sucesso!

A gente sempre aprende na cartilha... opa, perdão, nos livros didáticos que "a ditadura caiu de podre" o que suscita a interpretação simplista de que de repente o ideal democrático à parte de qualquer luta social (pois luta é sinônimo de desordem) de tão sublime corroeu a estrutura vil do regime opressor nos encaminhando naturalmente para a tão sonhada liberdade. Ou seja, estavam todos errados, os milicos com seus cassetetes e choques elétricos nos porões, porque violência é um negócio muito feio, e a esquerda enlouquecida armada de bombas e panfletos apoiada em um ideário marxista que se mostraria falho uns anos mais tarde com a queda da URSS. E então a democracia caiu dos céus e o mundo voltou a ser um lugar lindo... 

...só que não.

Vamos, por favor, espero que a essa altura tenham detectado a minha ironia ou tenham percebido por vocês mesmos que essa consciência histórica simplificada é absolutamente ignorante! Vou tentar pular algumas ironias e ir até onde quero chegar nessa história da ditadura cair de podre: nós, herdeiros involuntários do regime e opostos aos ideias que o moveram, não temos uma data para comemorar. Vejam, caros leitores, aquele pessoal não é tão excêntrico é que.. não existe um dia da democracia ou, mais importante, da justiça social porque, francamente, não acho que ela tenha chegado. E se for para brindar ou comemorar algo, que seja algo que tenha de fato acontecido, sendo assim, a comemoração do Clube Militar é algo absolutamente coerente. Já o que habita o porvir, o que ainda está fora do nosso alcance, isso não se comemora (obviamente): pelo futuro, se luta. Quem se assume de direita, está celebrando todos os dias que as coisas permaneçam como estão, a mudança aqui é que esses filhos da puta decidiram ser mais sinceros!

A ditadura caiu de podre, meus amigos, mas não nesse sentido que comummente se atribui, caiu de podre porque se tornou obsoleta: de que serve a mordaça em um povo sem voz própria? De que serve a censura se o senso comum é mais eficiente para amortecer a crítica? De que vale bater em cachorro morto? As coisas não vão bem, não, nem adianta argumentar que o Brasil está crescendo e espero sinceramente que eu não precise pontuar exatamente o porquê, para o paulistano mediano talvez basta que eu mencione a palavra "transporte" para que ele sinta calafrios... e a palavra educação para que sinta asco.

E ficam todos dizendo simplesmente que a ditadura é coisa do passado e é mesmo! Mas isso não é desculpa para não voltar os olhos para a violência que acontece agora, pois essa indignidade toda é uma violência. Bom, se acha isso muito abstrato, falemos da violência expressa: o Estado tem o monopólio da violência, ter uma força policial a seu serviço, um exército, significa isso. Algo que merece cuidado, mesmo em meio a um regime democrático como o nosso é necessária constante vigilância e crítica. Quando essa força que presumidamente seria usada para a nossa proteção é dirigida para contenção e dispersão de manifestações (e aqui falo das mais diversas, desde as movidas por causas sociais, como as de estudantes e trabalhadores, como também um agrupamento de torcedores de um time de futebol ou mesmo as manifestações duramente reprimidas contra a comemoração do Golpe no Clube Militar), nossos olhos e ouvidos tem de ficar ainda mais atentos para a percepção da violação de nosso direito de livre-expressão.

Acontece que a metáfora que atribuí a democracia (que parece simplesmente ter caído dos céus) serve aqui em relação à todas as nossas instituições: alguns parecem achar que o Estado e seus instrumentos são banhados em uma justiça divina contendo em si o senso de certo e errado o que tornaria justo esse uso de força para, antes de nos segurar, prezar pelas instituições, pelo Estado, pela "ordem". O devaneio só é amainado pela crença em meia-dúzia de homens e o grande mal da corrupção que deturbam e distorcem algo que é essencialmente bom... Isso quando não acreditam simultaneamente, sem suspeitar de nenhum contradição, que o Estado é justo e corrupto simultaneamente! Coisa pra deixar Orwell orgulhoso...

Só para ilustrar a crítica que deveria se impor, trago a tona um argumento utilizado por membros do movimento estudantil que pedem o fim dos processos contra os "presos políticos", pessoas atuadas na desocupação da reitoria, que, quando questionadas do porque do rótulo de preso político, que inevitavelmente faz alusão a ditadura, afirmam que todo preso é preso político. Eles tem lá sua razão já que toda autuação tem por detrás um projeto político e todo criminoso é assim considerado por ir contra um corpo de leis institucionalmente estabelecido. Enfim, se a acusação por eles sofrida é justa e as penas cabíveis, é um juízo que deixo para vocês, mas que reflitam sobre essa questão: quem faz as leis? Quem as faz cumprir? Quem as faz dignas de punição e prêmio? Quem permite tudo isso? A vontade do Estado é governada por uma moral absoluta e sagrada... ou uma ideologia como qualquer outra? - É política.

Ainda sobre as leis e o juízo de certo e errado, pensemos que apesar da ditadura ser inequivocamente considerada um regime atroz de violência e ignorância, não é considerada um crime por não haver culpados, parece ter sido apenas uma... infelicidade, sendo as reparações do Estado absolutamente raras e as punições a nível pessoal tornadas virtualmente impossíveis com a anistia. Sendo assim, parece tão absurdo que comemorem o aniversário da "Revolução de 1964"? O sorriso vai de orelha a orelha!

E quem prosperou na ditadura segue aí feliz e sorridente já que, por ser coisa do passado, estão insuspeitos, anistiados e ricos. Meios de comunicação, notadamente colaboracionistas à época do regime, continuam nossos olhos e ouvidos; políticos e influentes (e suas famílias) seguem donos informais do poder. E o país do futuro segue sem passado, pois, negando o fantasma do ditadura só por ser "coisa do passado", nos tornamos uma nação sem memória. Não, como o clichê sugere, destinado a repetir seus erros, mas acanhado em uma ignorância que sempre se reinventa para continuar a mesma, pois os que estão lá em cima não estão lá a toa, são espertos o suficiente para nos darem sempre novos brinquedos.

Agora vai e me conta: quais os seus planos para o fim de semana? Qual é o seu projeto de vida para os próximos anos? Acha mesmo que isso vai ajudar em alguma coisa? Teu raio de ação vai além do seu voto a cada dois anos? Você pelo menos tenta? Aposto que não... e nem reclama mais. Vai lá amigão, pode pegar seu copo e brindar que a festa também é sua!

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