Trago comigo esse inexplicável pesar por algo que fiz, um misto de arrependimento por grave erro cometido ao me distrair.. por um segundo.. por qualquer coisa.. e luto por algo ou alguém que se perdeu no caminho, sentimento sepultado em minhas lembranças. Tenho vinte e dois anos, mas sinto como se o auge de minha vida já tivesse passado sem que eu tivesse percebido, acho que é sempre assim, a gente só dá o devido valor quando perde. E o que será que perdi? E o que será? E o que tem sido?
Crise existencial planejada em cinco ou seis linhas por parágrafo, depressão literária, emoções teatrais, coração de mentiras, mas como negar o sangue que flui, como negar que existo?! Não nego, sou ser vivo, fisiológico, biológico, instintivo, humano (talvez), mais um desalmado procurando inspiração para o próximo engano. E por isso, seja lá o que for, continuo escrevendo, ouvindo música, gastando o tempo pra não gastar as lágrimas que são tão caras a esse escritor de coração partido. Cansei de Amar.
A todo o tempo me convencem de que o que sinto é errado e não protesto com essas vozes que só me querem de volta à trilha da razão: elas estão certas. Longe de mim lutar por autenticidade em um mundo sem originais, mudar de opinião e ação agora seria apenas assumir um reflexo mais digno e aceitável (para quem?). Os enganos de agora, os amores que irrompem na escuridão da minha alma, não são mais "autênticos" do que aqueles que eu poderia inflamar ao acordo de normas mais justas (de quem?). Preciso seguir em frente.
Não procuro com isso agradar aos outros, pois nem saberia como. O que eu procuro, o que eu quero, ainda não tem nome, não existe. Só me sinto errado, fora de rumo, desconfortável comigo mesmo. Comportamento estranho, contraditório, não me nego certas idiossincrasias então talvez me importe em ser autêntico; não me nego o espelhamento em alguma moral imaginária, então talvez eu já esteja "certo" só por me importar.
Seria então a angústia de habitar o "meio-termo", o limbo das não-escolhas? Uma vez acreditei que não bastava tomar decisões e o que realmente importava era a disciplina e a coragem, enfim, a força pra lidar com as consequências. Hoje já não tenho certeza, existem sim escolhas erradas, não que eu as tenha tomado em demasia, mas foi um erro de cálculo que me custou algum tempo (e mágoas). Seja como for, tomei o meu caminho, não é a ausência de movimento que me aflige, mas a falta de direção, de um Plano. Olhando por cima, na visão panorâmica de um mapa, a feição enlouquecida que assume o traçado dos passos que dei até aqui não me deixa mentir - não faz sentido algum.
Muito bom seria dizer que me perdi pelo caminho, reduziria assim todo o problema. Mas não conseguiria acreditar nessa farsa por muito tempo, sou ateu demais para acreditar em um único e verdadeiro caminho, ainda que possua toda essa fé que, não movendo montanhas, move o Tédio sobre mim, me angustiando, me pressionando para a tomada de decisões mais emocionantes e envolventes. Ambiciono uma tomada completa dos sentidos, euforia transgressora do tempo e do bom senso em um único movimento de coesão e direção. E tudo isso é tão impossível quanto procurar alguma coerência no meu texto.
Se acabo por aqui, é por cansaço, não do escrever, pois me entristece apagar o espírito despudorado da escrita e voltar à solidão, recluso em mim, presa do Tédio. Cansaço das ideias e um medo de me repetir e entediar até a você que foi tão simpático, a você que amo de todo o meu coração por ainda estar comigo até aqui. Agora, adeus, pode ir, "não é você, sou eu". Feche a porta, apague a luz. Estou cansado.
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