Música

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28 de agosto de 2012

Closure

Devia ser muito cedo, mal tivera pequenas impressões de sonhos, a sensação de leveza que nos inunda quando estamos prestes a embarcar no sono, quando minha mãe me chamava. "Você não vai trabalhar hoje?" Já havia acordado com o barulho da porta, ou apenas ficado mais alerta já que não houvera propriamente dormido, e a espiava por debaixo das cobertas desde a sua entrada brusca em meu quarto. Acenei com a cabeça afirmativamente e ela foi embora. Aliás, nem me lembro se acenei, mas ela se retirou e pude relaxar alguns segundos até que o despertador tocasse... eram 6:10. Pensei que havia perdido a hora, mas estava tudo dentro do previsto, 1h de sono já que só peguei no sono as cinco da manhã.

O bacharel aqui (recentemente formado) ainda não estava pronto, com mais de duas semana até o prazo final para tomar posse do cargo para o qual fui nomeado na Diretoria Regional de Ensino, fui seduzido pela preguiça. Nem precisou de muito, sussurrava o pecado ao meu ouvido caso eu quisesse ouvir argumentos: "você não teve uma boa noite de sono, espere até outro dia, isso não é jeito de se apresentar ao trabalho!" E então me rendi até ser chamado novamente. "Você não vai trabalhar hoje?" dizia a empregada, atenciosa (afinal, não quero tratá-la por implicante, aos olhos dela eu estava perdendo um compromisso). Nada respondi e tampouco fiz, me fingi de morto, também ela se retirou. 

Acordei ainda algumas vezes para olhar o horário no celular/despertador: 7h20... 7h50.. olhei até ter certeza de que não conseguiria chegar na Diretoria até as 9h, horário que estabeleci como limite. Só então dormi, um sono limítrofe, narcótico e arrisco a dizer: perfeito. Como não há muito tempo, sentia que estava exatamente onde devia estar banhado por uma satisfação profunda somente abalada pela culpa quando acordei ao meio-dia, horário razoável, depois retornando a dormir e acordando 13h30 o que, por algum motivo, me caía como inadmissível. Auto-piedade é foda, me sentia o vagabundo dos vagabundos! Férias absolutas já há dois meses desde que me formei; desemprego há quase um ano desde que fui "dispensado" de meu estágio depois de inventar de fazer um relatório de sugestões para o meu chefe (não se mexe com o brio de certas pessoas, fica a dica); quanto tempo mais eu precisava, afinal?! 

De qualquer forma, senti que devia agir e fiz como todo rico que alivia a culpa de sua fortuna de exploração e abuso com filantropia: remediei uma ação negativa com outra teoricamente positiva, equilibrando o universo como se fosse uma equação matemática. Colocando em outros termos, já que me sentia inútil eu teria de fazer algo útil. Pensei por alguns instantes e me lembrei de que precisava cancelar uma de minhas contas no banco (sim, desempregado, sem dinheiro e com duas contas bancárias, esse sou eu). Havia meses que eu protelava a tarefa.... e sim mais uma vez, como deve suspeitar, não foi de graça que não acordei essa manhã ou que me senti tão culpado: é um ato ensaiado e encenado já há muito tempo. 

Masoquismo, talvez?

É sempre curioso o efeito que sair de casa tem sobre mim. Vestido e motivado eu já palmilhava as calçadas do mundo lá de fora de que me privei o fim de semana inteiro. Dor nas costas e cansaço, dentro outras chagas de meu sedentarismo, me acompanhavam na caminhada de dez minutos até o banco. Eu me sentia outro em contato com a realidade, me sentia escritor mais uma vez inspirado por tudo o que tocava a vista, motivado suficientemente para escrever essas palavras liberto das falsas musas como cigarro e opinião. Não, estes são apenas motivadores, a escrita vem da alma e eu estava vivo novamente! 

Já no banco, a porta giratória me causou aflição. Não sabia se devia ou não tirar minha carteira e celular pra passar, por via das dúvidas observei os outros e vi como um rapaz colocou carteira e celular em um recipiente com saída dupla na parede de acrílico; colocou de um lado, passou pela porta e pegou do outro, fiz o mesmo. Do outro lado, outra dúvida: onde fechar a conta? As indicações não ajudavam: de um lado, abertura de contas, empréstimos, investimentos; do outro, os caixas e até um misterioso guichê intitulado de "outros serviços" que imaginei não ser o lugar certo, pois as pessoas ali eram atendidas muito rápido. Pensei um pouco pra concluir que fazia sentido essa falta de clareza, se o banco precisasse de um guichê reservado para o fechamento de contas seria porque os negócios vão muito mal e pra que dar essa ideia pro cliente, não é mesmo? Esperei sentado próximo a atendente responsável pela abertura de contas por alguns minutos, achei a aposta mais segura e, na pior das hipóteses, ela me direcionaria para o lugar certo.

Desistir e voltar pra casa foi algo que me ocorreu umas tantas vezes, só pelo constrangimento de não saber o que fazer, mas eu estava determinado a me redimir naquela tarde e esperei até ser chamado. Uma mulher conversava alto nos assentos atrás de mim. Ela alertava ao seu interlocutor que as atendentes eram bonitas e arrumadas só pra deixar os homens "bobos", achei uma análise bastante rasa... ainda que as atendentes mulheres, pelo o que observei, fossem realmente bonitas e arrumadas, mas sem haver nada que ultrapassasse a formalidade em seus trajes. Fingir que se trataria de uma grande coincidência seria cinismo demais, mas eu arriscaria uma crítica social mais profunda, pensar que talvez essas jovens atendentes tiveram mais chance na vida (sem aqui duvidar de sua competência) por sua aparência ou, indo mais atrás, mais oportunidade para realizar seus estudos e garantir experiência no mercado.  A menina que me atendeu tinha os lábios carnudos, perfeitos, sem exagero e usava aparelho e, claro, mais importante: foi prestativa. 

- Quero fechar a conta - disse eu depois de ensaiar umas tantas vezes em silêncio.
- Ah... encerramento - ela me corrigiu.  

Por usa hesitação, imaginei que tinha errado de atendente, ainda que tenha me recebido com total solicitude... só achei estranho quando me pediu pra ligar para um telefone, cancelar a função crédito do meu cartão e só depois falar com ela. Feito isso ainda tive de ir nos caixas limpar minha conta, a exorbitante quantia de R$ 7,21, para poder fechá-la. Eu estava lá munido de identidade e quantas mais chancelas de identificação ela precisasse, mas mesmo assim... tinha de seguir o protocolo. À princípio me pareceu um absurdo, mas em se tratando de dinheiro e da minha falta de pressa, aceitei a situação aos poucos. Esperei uns bons minutos até que ela me desse a carta de alforria pra assinar, sem cartão de crédito e um tostão na conta, era a última etapa. Uma outra atendente falou comigo ao perceber que a colega me esquecera ali e pronto, eu estava livre.

A coisa toda levou cerca de uma hora e meia, passei ainda em uma padaria e depois no mercado sem conseguir decidir comprar ou consumir nada. O mais perto que cheguei de tomar uma decisão foi segurar uma Guiness na mão: promoção, só R$ 4,99. Achei que seria interessante gastar daqueles R$ 7,21 da minha conta pra algum dia poder dizer que esvaziei a conta e gastei tudo em bebida, mas como não havia almoçado julguei má ideia beber de estômago vazio... fora que se esse meu pequeno passeio foi mesmo para me redimir de minha auto-imagem de vida-fácil, beber cerveja importada as 16h da tarde da segunda-feira não era nem um pouco coerente. Com isso em mente, voltei pra casa e almocei uma barra de chocolate, porque saúde é o que interessa. O resto do dia até aqui é um mistério para mim, pura inércia. Provavelmente joguei FIFA na internet, perdi algumas, fiquei puto e saí. Tenho quase certeza de que assisti um filme, mas não me lembro do nome.

Nesse ponto, você deve estar esperando alguma espécie de reviravolta que dê sentido a todo esse relato ou ao menos algo que explique o título. Bom, aos que não perceberam, closure é inglês pra encerramento. A explicação para a minha escolha reside em um dizer comum aos americanos (ou talvez só comum aos filmes e séries do lixo cultural que tanto consumo), sempre que um personagem passa por uma desilusão, geralmente amorosa, ele precisa de closure, algo que marque o ponto final para então seguir em frente. Sendo assim, o relato tem a finalidade de me resgatar um pouco da falta de sentido que assumiu meu dia-a-dia presunçosamente chamando isso que faço de literatura, de arte, e com essa ilusão significar o meu encerramento. Posso bradar, depois dessa pequena vitória, que estou pronto...

Será?

A verdade, caro leitor, é que recebi meu certificado de conclusão de curso nessa sexta-feira, algo de muito mais significado que fechar uma conta no banco. Pensei igualmente em escrever sobre o ocorrido pintando o banal de tantas cores quanto pintei o relato que agora lê. Daí que eu tivesse estabelecido como data ideal para iniciar o trabalho na segunda-feira. Enfim, talvez o remédio disso tudo seja deixar de poetizar a vida achando que existe uma hora certa pra tudo e momentos que nos avisam quando estamos prontos como o termômetro do Peru... não, FELIZMENTE não temos isso. Ah.. mas amanhã sem falta eu começo! Amanhã vai chover depois de tanto tempo de seca em São Paulo e chuva é sinônimo de mudança e.. amanhã sim! Amanhã, talvez..

Não sabemos se estamos prontos até tentar.

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