Alguém me dê um momento para chamar de meu, uma sensação borrada de erros do caderno de expectativas que não precise ser passada a limpo! O que sou e o que sinto nesse momento? Alguém, por favor, me diga algo que faça algum sentido, que faça qualquer diferença a essa alma que julga saber de tudo e de todos! É preciso que venha logo o socorro, pois já me atrofia o espírito essa ignorância que produz a solidão prolongada. E que me digam os outros já que pareço ter medo do engano como se houvesse pecado em arriscar palpites e errar... mesmo que sobre mim mesmo e o que sinto. Sou forçado a me perguntar: que importa saber para sentir, afinal? Uma dor idiota ou errada não dói da mesma forma?
Nada, nenhuma voz, só ruídos. E permaneço na escuridão com meus pensamentos de morte dando passos sombrios guiados pelo medo. Tento chamar de apatia e inércia sendo que me sobra o desejo... é a outra coisa que falta, por que não, então? Amar é perigoso e mesmo que exista quem faça jus ao sentimento, eu me proíbo, censuro essa vontade de segurar sua mão e até mesmo de amá-la platonicamente, de querê-la em prosa recitando a mim mesmo em meus rascunhos nossos beijos e carícias imaginários. Não tarda, a breve luz da candidata a musa se apaga nas incertezas, sentencio grave e prematuramente que é só mais uma ilusão de um coração cansado, o que é muito, pelo o que pode me danar, e pouco, pelo o que pode me agraciar, ao mesmo tempo. O pior negócio possível para uma alma que quer se poupar.
O que sinto por ela, se falar de amor é complicado, pode ser descrito como lampejo de lucidez e loucura, seja na loucura de meus desejos de possuí-la ou na lucidez de minhas determinações, rotas e planos que de repente se tornam óbvios e palpáveis, para poder estar com ela. É fugaz, mas nem com isso se limita a superficialidade, basta o breve lampejo e tudo, não só uma parte, mas absolutamente tudo se ilumina quando vejo seu rosto e o sorriso que insistentemente provoco... em minha pretensão silenciosa me regojizo com a parte que me cabe na Criação já que por mais que não tenha sido eu o responsável por tamanha beleza, sei que ela sorri para mim, aquele sorriso é meu, aquele momento é meu para ser protegido em minhas memórias, para ser guardado nessas palavras... que, se assim tanto prezo, talvez merecessem mais segredo.
Por que me censuro em escrever sobre o que verdadeiramente sinto? Por que tanto gosto pela forma e tanta frescura pela recepção? Afinal, esse é o grande medo, talvez até mais do que uma leitura negativa: ser mal compreendido. E faz sentido, se nem eu sei do que sinto, por que saberia aquele que lê? Novamente me obrigo à certezas e me constranjo quando não as possuo, acabou o mistério da escrita espontânea como se assim pudesse eu me livrar de toda a espontaneidade e indefinição da frágil forma de meu ser... quero escolher e saber das dores antes mesmo de fruir dos prazeres. Além de neurótico, masoquista! Apaixonado?
Minha maior vontade é a de escrever de frente para o seu retrato, agora mais do que nunca quando tudo o que toca a vista, os sentidos e os pensamentos é desolador e frio. É chegado o tempo da musa, pois a névoa da angústia adensa e sufoca. Os sentimentos são cálidos, por que negá-los, combatê-los ou explicá-los?! Relutei tanto em escrever a ela como se precisasse de licença mesmo sem acreditar em minha total inconveniência, afinal, tenho cá minhas qualidades. Já não há mais necessidade de medo, escreverei essa homenagem até o final e se acaso me acovardar, podem morrer estas palavras em meu caderno.
Há um fio de esperança na tecitura das lembranças de nossos encontros, há qualquer coisa de mágica em seu sorriso e no tom acolhedor de sua voz que me liberta de toda a ansiedade. Só não quero estar sozinho quando sei (ou espero) que estarei em sua companhia. Ela é a exceção de minha solidão litúrgica, a luz que me guia para fora de mim, o fim desse silêncio monástico de meu eu escritor e momento de alegrias profanas sem as quais o meu coração que anda tão cético quanto aos descaminhos da humanidade não sobreviveria.
Prematuro, no entanto, falar de atitudes, pois para quem tanto fruiu de amores platônicos já são notáveis as percepções que são contraídas à distância e quais sentimentos de fato brotaram na intersecção de duas almas. Por hora, mesmo sem poder dizer categoricamente que estou apaixonado, sei que, se realmente amo (falar de amor é complicado, conforme dito) provavelmente estou amando sozinho... mas já não sinto a obrigação de estar só e acho que isso é o que importa. Com tantos porém, não se deixe enganar, vale a observação de que sou mais romântico do que pessimista e os sonhos que tenho com ela não sobreviveriam se não fossem alimentados pela real perspectiva de algum dia estar ao seu lado. Quem sabe um dia eu saiba de seus beijos... quem sabe um dia ela saiba dessas palavras...
Sempre a cautela para não perturbar os astros, o medo de mudar e atrapalhar a ordem natural das coisas, ser um estorvo... ou idiota insensível. Não quero errar com ela ou comigo mesmo, ao menos não de uma forma que contradiga enfaticamente minha criação e meus valores. Ter em meu norte "fazer a coisa certa" é aquilo que me faz, mesmo que por vezes afogado em um mar de inseguranças, um homem feito. Nem sempre saber exatamente o que quero ou, como sob aquela ótica simplista tão conhecida, poder fazer aquilo que bem entendo sem dar satisfações por dispor dos próprios recursos financeiros, e sim ser responsável por aquilo que cativo, isso que me dá serenidade na auto-afirmação de minha maturidade. E se o problema (ou solução) é procurar sempre fazer a coisa certa, sei que por essa noite é admitir a mim mesmo e ao mundo o quanto adoro aquela menina e não ter vergonha disso. É certo que eu pense nela e suspire, mesmo sem saber porque, mesmo sem saber o que fazer.
Apenas sentir, esse é o remédio.
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