Música

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16 de outubro de 2012

"O Início, o Fim e o Meio"

- dedicado à Iara que, abusando da minha boa vontade, ousou pedir minha palavra.

Esse texto é divido em três partes ou, antes, aflue de três nascentes, sem deixar de possuir corpo único e corrente própria, como todos os outros, rumando por onde permitir a inspiração. Não é comum que eu defina as bases de meu trabalho por algo mais que uma ideia inicial, mas faço aqui uma exceção por serem estas palavras, encomendadas as quais, como em uma conversa, devem seu sentido a um contexto para ganhar vida, muito mais do que a nuvem solitária de uma ideia. Resumida e metaforicamente, tenho aqui três fontes por onde meu espírito nebuloso se condensou nessa mensagem, linguagem fluvial que muito se deve a bibliografia concernente, se verá. 

Comigo hoje: Raul Seixas, Jorge Luis Borges e Fernando Pessoa.

Peço perdão, Iara se ao me escapar de maior originalidade procurando o eco de meus sentimentos em terceiros eu traia o seu pedido, mas não pude evitar cativado pela palavra como as vezes me torno, autor/leitor, o fim e o meio - multiplicidade confusa do ser que me consome. Cativado assim, etimologicamente, me afastando um pouco do terno uso que fazemos da palavra; aprisionado em minha forma de pensar com o olhar capturado pelo discurso, inexoravelmente*. Ainda é possível dizer, em minha defesa, que se eu não sentisse que o resultado dessa investida não fosse minimamente satisfatório (ou inevitável), nem me atreveria, nem ousaria... ou talvez escrevesse de qualquer forma me distraindo com a introdução que engole o texto.

Introdução, conclusão e desenvolvimento se entrecruzam na confusão metodológica deste escritor em eterno treinamento. Assim vou eu encorpando ideias não apresentadas e mais afrente apresentando ideias sem corpo. Sou isso o que lê, confuso, confuso e banal tal qual a vida. Já me chamaram de "o tédio em pessoa" e me afligi o suficiente por isso, ao passo que hoje, já arrisco um certo orgulho por ver nesta imersão plena na falta de sentido que rodeia a vida a oportunidade de me tornar um escritor digno; posso falar da vida porque vivo a vida... nem que o viver consista aqui nos movimentos imaginários de meus desejos e frustrações por um mundo em que o amor parece nunca ser o suficiente. Também pudera, o amor não existe  para preencher lacunas, completar ou alimentar as almas. Ele apenas está lá... ou não está, assombra-nos com o sobrenatural de seu mistério. Mas aí talvez eu tenha fugido do tema.

Raul, a primeira das vozes invocadas, descrevia uma força imaginária em Gita, um eu lírico onipresente, criador falando à criatura ou melhor até: a vida falando aos viventes, ente que se arroga de ser as coisas da vida / o medo de amar [...] o início, o fim e o meio. Pelo crescente da música até o triunfal de sua conclusão reconhece-se o signo da grandeza em ser os três ao mesmo tempo. Sendo assim, ser o todo coeso tem qualquer coisa de perigoso, pretensioso e nos leva a um consequente equivoco. A maior sinceridade (ou pontualidade) que pode habitar o ser sensível é essa completa confusão com que agora se depara. Prosseguindo as invocações/provocações não seríamos nós tal qual o rio que encontra o mar nas recordações de Fernando Pessoa em Álvaro de Campos? Passado vivo em nossas lembranças de pessoas e sentimentos sentenciados como mortos. Rio e mar, passado e presente e seu contíguo perpétuo futuro, oceânico, profundo e misterioso - não seriam um mesmo? E ainda que pareça tão simples, tão uno e indivisível, continuamos a nos perder de nós mesmos, possível inquirir: Mas a água perde-se de si própria? [...] Tudo isto deve ter um sentido - talvez muito simples - / Mas por mais que pense não atino com ele.

Borges, ao versar sobre o tempo, nos coloca em face da esfinge, a ingente / forma de nosso ser na quimérica composição de passado, presente e futuro em uma monstruosa criatura que nos aniquilaria. Somos um todo labiríntico (já que falamos de Borges) de sensações ocultas que se cativado no entendimento estrito de uma figura viva causaria-nos terror e espanto A longa e tríplice besta (que) somos. Padeçamos então antes da confusão do que do entendimento fatal de uma sabedoria que não nos cabe, a lição é não abusar da sorte já que piedosamente / Deus nos depara sucessão e esquecimento. Palavras estranhas a um ateu, eu reconheço. Essa confusão me confunde.

E não eramos assim outra noite, Iara? Quiméricos em nossos diálogos; mediúnicos trazendo à mesa os fantasmas de relacionamentos passados; esotéricos ao esquadrinhar o porvir sobrevoando o futuro; e, por fim, clínicos ao tentar diagnosticar aquilo que somos nas mazelas da psiquê para abocanhar uma compreensão melhor de nossa identidade. Houve qualquer coisa de fantástica ali que agora ouso traduzir em literatura... literatura de Tédio, literatura de escritório, pois mais uma vez início o rascunho do trabalho. 

Viciado em trios (e deixo para a curiosidade o leitor pesquisar o porquê dessa proporção encantar tanto o espírito humano), esse texto contou também com três fontes, conforme apresentado: Gita de Raul encontrado em qualquer roda de violão e revista de cifras; um poema sem título da "Poesia completa de Álvaro de Campos" por Fernando Pessoa (Companhia das Letras) encabeçado por Os mortos! Que prodigiosamente;  e o poema Édipo e o Enigma de Jorge Luis Borges que li há algum tempo na Nova Antologia Pessoal (editora Difel). Ainda existiu uma quarta e indeterminada fonte sinalizada pelo asterisco que fico a dever e não entra na conta, por questão estética... e de preguiça em pesquisar.

Fazia tempo eu desacreditava na minha capacidade de sentir e ser tanto na articulação de minhas vivências, por isso te agradeço. E tão longe me aventurei, seja no eixo temático ou nas fontes citadas, inestimáveis e inesgotáveis, que a conclusão de um singelo ponto final tornará pequeno e desastroso qualquer que seja o desfecho sendo único pouso para múltiplos voos. O melhor e mais seguro é ficar com uma simples despedida e permitir-me pendências no ar. Fico por aqui, até logo, Iara, espero que goste, eu certamente gostei de lhe escrever.

--
* Delírio adaptado de uma crítica de arte tocada em uma vitrola com fones exposta na Bienal (segundo andar, se bem me lembro). Se alguém souber o que diabos era aquilo, fico grato de ser informado.

3 comentários:

Iara disse...

Li e reli. Não contente, reli mais uma vez. Se eu gostei? Pouco, já que nunca conseguiria registrar aqui o meu real apreço. Obrigada! =)

M.M. disse...

incrível :D

Anônimo disse...

Nooooooossa! Daquelas coisas que vc fica *O*. Quando tiver um tempinho, dá uma passada lá no http://desconsertando.blogspot.com.br/ pra vc ver o que acha.

Bjs!