Música

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3 de dezembro de 2012

Assim, meio azul clarinho

Para Iara, que hoje acordou desigual.

Já ouviu falar em sinestesia? É aquela condição quase lisérgica que uns poucos são equipados pela consciência... e uns outros recorrem a meios menos naturais para vivenciá-la. Ouvir gostos , cheirar texturas, ver os fonemas de um nome, ou sentimento, harmonizarem-se como num acorde no ar transformado-se em uma cor, melodia apreciável aos olhos... coisas assim, especialmente esse último, me deixavam e me deixam especialmente intrigado. Às vezes quando escrevo e também antes, no segundo anterior da caneta tocar o papel, sou tomado de tantas sensações, de tanta vida (mesmo no mais depressivo de meus momentos literários), que a percepção habitual parece não dar conta. Nessas horas, sinto-me de volta a caverna de Platão, não como se me aprisionasse, pois em verdade nunca estivera verdadeiramente livre, mas regressasse a um entendimento essencial que, por fatores diversos, nos perdemos da vida. Lembrar de tempos em tempos que muitas vezes nossas certezas podem não passar de sombras, não-saber, ter a consciência da beleza que pode haver em nossa infinita ignorância e pequeneza nos torna mais humanos. 

A confusão dos sentidos é só parte da caos de se estar vivo, de se sentir vivo. Não é tudo, mas um bom começo e precisamos começar de algum ponto. Temendo não possuir uma explicação holística que dê conta de tudo nesse apego absoluto a racionalidade corria o risco de não sair do lugar mantendo nosso diálogo atado a um silêncio obscurecendo tudo aquilo que ainda consegue ser dito na angústia pela área proibida. E esse foi o ponto de partida escolhido, sensações e percepções confusas que empurraram pra longe as monolíticas certezas de minha alma - pensar em você para escrever estas linhas, em como chega até mim de tantas formas que as palavras não dão conta, também me deixa desigual e me atropelo e perco o fio da meada. Veja você que chegamos até esse ponto, longo caminho, longas sentenças, para te dizer que quando penso em você sinto tudo meio assim... azul claro. É como se eu visse, ou não tivesse dificuldade em imaginar, as notas no ar formando o seu nome de uma melodia cromática silenciosa não escrita.

Acredita em almas gêmeas, não é? E em almas irmãs? Sei, à princípio parece algo como 'quase gêmeas', uma espécie de consolação por chegar perto do ideal romântico almejável por nós sonhadores. Mas eu não vejo assim ou, se antes via, ao conhecê-la mais a fundo e sentir tudo o que sinto, sou obrigado a organizar meu (não)entendimento. Vejo-nos assim, como almas irmãs, visto que nossos gênios bateram tão fácil, bastou que nos aproximássemos, bastou que olhássemos verdadeiramente um pro outro. Somos diferentes demais para sermos almas gêmeas, ambos sós e nem sequer nos encontramos na mesma solidão! Refratários de índoles solitárias dissonantes, um espelhamento completo é impossível... mas a companhia é mais que possível (e desejável, afinal, existem acordes dissonantes, não é mesmo?). Somos almas que se irmanam da mesma forma que sujeitos, talvez por puxarem um muito pai e outro a mãe na travessura dos gametas,  não se assemelham além do sobrenome à primeira vista de um observador externo, mas, em um segundo olhar despretencioso, logo se observa um (não)entendimento e cumplicidade de laços tão profundos e inexplicáveis que a percepção muda de figura.

Precisamos, nós dois também, de segundos olhares, mais distraídos e despreocupados em explicar tudo; precisamos, ou ao menos eu sinto que preciso (e desejo), não-saber para entender... e para sentir. O que não me impede de arriscar um olhar sinestésico, onírico, ou pensar no porquê de nossas almas, assim que espiaram para fora da concha, terem se reconhecido imediatamente. Não-saber é divertido e também um pouco perigoso, dá medo, porque eu que sempre gosto de ter completa propriedade sobre aquilo que digo não consigo, nesses momentos, prever exatamente o que vem a seguir, mas nem por isso me seguro, pois com você, agora, o silêncio se tornou mais difícil do que fazer o impossível e dizer o que não é possível dizer. Com a concha aberta, assim, exposto em meus equívocos, me calar seria decretar a completa insanidade, dito que está tão bom aqui fora. E aí sim, perdido de meu juízo, bem capaz eu ouvisse, de fato, gostos, cheirasse texturas e sentisse tudo em cores - assim, meio azul clarinho.

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