A somatização de uma angústia,
hiperbólica maneira de viver e sentir, confunde-se, não raramente, com uma
inconveniente e falsa dramatização de um sujeito em busca desesperada por
atenção. A via contrária, racional e fria, expondo os problemas tais quais eles
se apresentam, menos na pele e mais nas palavras, costuma ser levada mais a
sério. Conversar com um colega e aconselhá-lo diante de um dilema é mais
confortável do que ouvir seus irracionais gritos de dor. O problema e o
conselho compõem um circuito fechado e há satisfação mútua ali: daquele que
ouve e se sente menos desorientado e do outro que aconselha e se sente útil, de
alguma maneira. Enquanto na situação-limite, de nervos à flor da pele e
mediante reconhecimento tácito de que nada há de ser dito, pois faltam os
signos para transformar, através do discurso, a dor presente de uma alma,
ferida aberta, em cicatriz, silêncios costuram sentimentos de impotência,
frustração e desconfiança.
Quem sabe não passe tudo de um exagero?
Portar-se
sério, ainda assim, é comportamento que desperta muito mais o meu desdém. Aquele
que tem total propriedade daquilo que diz e parece ter o mundo resolvido em
suas conclusões e certezas, ou mesmo que não as tenha, ainda acredita em sua
busca é sujeito muito sério – sério demais para ser levado a sério.
Boa
parte do tempo, sou flecha sem ponta, obtuso, nebuloso; lanço signos no ar,
essas palavras que tanto preza o sujeito sério, como uma rede no mar profundo
da inconsciência, sem saber o que vou encontrar até terminar o exercício.
Improviso, seja por preguiça ou por cansaço, e ojerizo qualquer tentativa de me
levar muito a sério. É tudo uma grande brincadeira, ciranda pra valsar inerte
num passo sem passo. Eu bem que queria ter todas as respostas, ou ao menos uma
parte delas, na mão, mas não as tenho. Confesso que até houve tempo em que
tentei ser mais claro, sucinto nas respostas, prolixo nas declarações, mas
sobreveio sempre a névoa de meu caráter inconstante e irracional.
Não
vejo saída, não me encaixo... será que tentei? Resta-me, por hora, pedir
desculpas aos que se frustraram com minhas maldades, experiências calcadas em
um egoísmo infantil para ver “até onde iria”. Culpei o mundo, e ainda culpo,
por uma seriedade risível e formalidade sem nexo, mas talvez seja eu o problema
por não ter crescido ainda em caráter: tornar-me inteiro, íntegro... e no final
era eu, protegendo-me atrás de uma suposta autenticidade, que levei muito em
conta as minhas particularidades, minhas fragilidades, meu jeito – sério demais
para ser levado a sério. De que adianta cobrar do universo, um sentido, um
afago, coerência e diversão se dentro de mim só há caos, inverno e solidão?
3 comentários:
Esta assim para todos. Ninguém mais quer saber nada, aprender nada! Acham que a vida é somente curtição, o pior é tem pessoas capacitadas para ajudar na educação, na cultura. E não podem pois sempre são barradas por pessoas que só veem o bem estar próprio.
Eu Entendo! E sei que com a sua capacidade com sua força de vontade, ainda vai fazer muito pela nossa educação.
Estarei sempre torcendo!
Você voltará a publicar o que escreve? Infelizmente, descobri seu blog apenas esse fim-de-semana. Já faz mais de meio ano desde a última postagem...
Anônimo, vc pode me encontrar em:
blogdeumbrasileiro.wordpress.com.br
Postar um comentário