O luto tem cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e, por fim, aceitação. Há quem tome as dores do individualismo e tente dizer que cada um sofre a seu modo, mas a verdade é que somos muito parecidos. Nessas cirucunstâncias, considero a análise objetiva do luto válida.
Não sei se o que passo agora poderia ser chamado de luto, atento para a possibilidade de estar exagerando. Nenhuma vida se perdeu, ao menos nenhuma que me tenha algum valor, somente esperanças, sonhos e até lembranças que estão me escapando a toda hora.
E neste "luto" estive trilhando o caminho inverso: comecei na aceitação rumando até o atual estágio. Estava relativamente confortável com o ideia de sofrer por amor, algo absolutamente comum. No entanto, a paz de espírito é exceção em um escorpiano tão inconstante e apaixonado.
Ser comum desagradou-me profundamente, acho preferia a ideia de que estava sozinho. Retrocedi para a depressão procurando parar o tempo e estancar a hemorragia de pensamentos sombrios. Obviamente não deu certo, consegui por fim ditar meu sofrimento como único... e insolúvel. Retrocedi mais um passo.
Por mexer com o tempo consegui apenas me distanciar do passado e deixar de enxergar o futuro. Não tinha minhas memórias para me consolar em tempos de agonia, ou até as tinha, mas sem o brilho de outrora, estavam despidas de qualquer sentimento, tão frias quanto fotos de filmes antigos que nem fizemos questão de revelar. Existem, mas e daí?
Estava disposto a dar tudo para sair do lugar, se alguém estiver aí me ouvindo isso foi perceptível quando alusões ao suicídio passaram a habitar as paginas do blog. Um ateu barganhando com sabe-se lá quem, definitivamente patético!
Agora sim, minha parte favorita, a que dá mais gosto de escrever e me deixa mais exausto: a raiva. Ranjo os dentes só de pensar em todo o ódio e ressentimento que estavam acumulados e presos desde a aceitação abrupta de meu estado de perdedor. Isso é justo?!
Não é possível, justo eu que sempre tive ilusões de grandeza deveria me conformar? Sim, afinal eram apenas ilusões. Nessa hora tive a chance de voltar à aceitação, mas dessa forma não escreveria este artigo tão agradável, acabei por terminar o caminho inverso do luto por um motivo um tanto quanto confuso.
Destruir uma ilusão tem um preço: ou você cria uma nova, ou tenta descobrir uma realidade (digo uma pois, assim como ilusões são muitas, as realidades são igualmente múltiplas). A vida tratou de me entregar uma decisão em uma bandeja de prata.
Deixarei o leitor confuso sobre que evento teria sido esse, mas digo que foi uma prova cabal de que o mais correto era seguir em frente e deixar um ano inteiro de minha vida para trás. Foi libertador, podia mais uma vez respirar. Porém, tão sutil quanto uma massagem cardíaca.
De repente tudo o que fiz até ali veio a tona. Decidi que não fazia sentido. Não gostei do resultado, deveria ter sido diferente, tem de ser! E cá estou eu, batalhando uma causa já perdida, sofrendo dores antigas. Mais do mesmo até que o mesmo mude. Quem sabe a inversão completa do luto não reviva os cadáveres que venho acumulando?
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