De tudo o que possuo, aquilo que não está aqui é o que mais pesa. O débito contabiliza mais do que o saldo, meu maior tesouro é a saudade da amada, as memórias não criadas, o amor que mata. Vácuo temível do coração, suga tudo a sua volta, tudo o que crio vai me fazer falta.
Já foi o dia de contabilizar pertences, de quantificar a dor, de explicar os sentimentos. O que importa é aquilo que não está lá, o que não existe. Sofro pelo intangível, sofro sem saber porque sofro, sofro porque sei sofrer. É força do hábito, é falta do que fazer.
Só não falta o tempo. As horas hesitam em correr, passam por mim vagarosamente para curtir o espetáculo como motorista que reduz para enxergar o acidente no acostamento. E sou algo além disso? Um acidente, um projeto falho, ferro retorcido em chamas? Faltam-me as palavras.
Cansei de ficar sozinho e me consolar no mundo interior, cansei da fantasia, dos sonhos estrelados, de não suportar ter de sair da cama. O cansaço impede o movimento, mesmo que o que esteja me cansando seja ficar parado. Falta ânimo, sobretudo.
E o que fazer? Da lista curta de possibilidades, escolhi escrever. Irônico que para fugir da solidão opto pela mais introspectiva das atividades. Talvez não irônico, apenas desesperado. Estou farto dos "porquês" e "talvezes", o que resta na falta de respostas dignas.
Maldito tédio! Agora já escrevo para ocupar o tempo mais do que para me expressar, matou-se a inspiração. Justo agora que rumava para a conclusão, ficarei devendo...
Faltou o final.
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