Em face dos últimos acontecimentos que envolveram o movimento estudantil, e abarcam toda a sociedade civil, ao meu ver, fazem-se necessários esclarecimentos, interpretações, diálogos que dêem sentido ao nosso momento, afinal, tudo o que a grande mídia faz, mais do que discutir, é jogar uma cortina de fumaça sobre o assunto e caminhar para o esquecimento. Mania de historiador, confesso, odeio operar no vazio, achar que tudo é um grande acaso de confusões divisado por uma ordem plena – nada é assim tão claro. Pois, encaminhemos a questão: o que foram esses dois últimos atos públicos (A saber, e, caso não saiba, fico preocupado, o do Largo São Francisco no dia 11 e da Av. Paulista no dia 24, desse mês)?
Esgotou-se o argumento da maconha, espero que sim, o bom senso habita até os mais obtusos de juízo: não dá mais para dizer que é uma luta pela liberdade de fumar no campus da minha digníssima universidade. Sim, tudo foi desencadeado pelos descaminhos da detenção, no dia 27/10, de três estudantes no estacionamento da minha faculdade que fumavam maconha, sim, a prisão de usuários pela ação policial representa uma grande falha de nossas políticas públicas e, por último, sim, a maconha tem um poder destrutivo muito menor do que o álcool e se se diz que é a “droga de entrada” seria mais que lícito pesquisar sobre pessoas que começaram pelo álcool, muitas vezes pulando a maconha, para entrar nas drogas “mais pesadas”, mas, enfim, reconheço, e o movimento reconhece, que a sociedade ainda não está madura para discutir o problema das drogas. Então, não, essa não é a nossa pauta.
O que dizer agora? Bom, a inércia é forte e muitos ainda optam por todos os artifícios para não se chegar a raiz da questão. O argumento que parece raiar no horizonte das ignorâncias é o da desconsideração. Já o era quando se dizia que os estudantes que ocuparam a reitoria na noite do dia primeiro estariam atentando contra o patrimônio público, crianças mimadas e sem respeito que quebravam esse lindo brinquedo comprado com os impostos de toda a sociedade civil. Agora, o desrespeito é com o tempo do cidadão pelo caos no trânsito provocado pelos atos, a quebra da santa normalidade, enfim, uma tremenda desconsideração para com o trabalhador que quer voltar pra casa, assistir a novela, comer seu pão de queijo e começar tudo de novo amanhã. Ironias à parte, sinto lhe dizer, mas, se concorda:
Seu argumento é inválido.
É perigoso qualquer tipo de censura, de mesura em uma discussão embrionária, qualquer manifestação de diálogo deve ser estimulada depois daqueles anos de mordaça, mas eu preciso embarreirar aqueles que se metem demais na discussão rasa. A quebra da normalidade é o justo início da mudança. São meses, anos, décadas de desrespeito ao trabalhador, este leva quatro, cinco seis ou mais horas no transporte todos os dias! E contra isso não há nenhuma menção. Quando há, se cai naquele argumento do poder transformador do voto. Muito conveniente, a cada dois anos votamos e, se não deu certo, azar! O contentamento é assistir CQC e achar que cumprimos nosso papel por se indignar sentado no sofá. A outra alternativa é dizer que “está tudo errado!” ou o “são todos iguais!” e nem sequer votar de forma consciente. E que isso baste.
Nossa democracia é falha e não me venha falar em reforma política! O buraco é mais embaixo, precisamos de uma reforma em nossos corações, em nosso poder de indignação, de achar que nada disso é normal! As instituições não são santas, o Estado é laico, está a serviço de determinadas ideologias, de determinados grupos. Dizer que os estudantes estão contra a Lei, contra a normalidade, contra o respeito, chega a ser elogioso. Pergunte-se o que você acha certo e esmiúce o entendimento, não deixe que o façam por você! Isso tudo o que digo nem chega a ser uma opinião, é um grito, tudo o que me resta em meio ao desespero pela morte do bom senso e da solidariedade. Sou contra a caridade que afaga o ego e o conformismo que paralisa qualquer tentativa de ação; sou a favor da educação pública de qualidade, da livre expressão; sou a favor da mudança, da dignidade e do protesto. E você?
(fotos tiradas com meu celular durante o ato na Av. Paulista na última quinta-feira, dia 24/11)




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