Música

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16 de setembro de 2013

A Long Slow Goodbye

Mais um daqueles posts tristes...

Por que guardar tantas mágoas? A pergunta é suscitada quando o incauto interlocutor se depara com meu ar melancólico e taciturno para com as coisas da vida. Não à toa: a atmosfera pesa ao meu redor, como um miasma de angústia contagiando aquele que passa e isso não é visto como algo natural... e por natural entenda aqui aceitável. Tudo que é de difícil digestão, esses dias, é sentenciado como aberrante, não-natural e portanto suscetível a purificação, decantação ou tratamento esterilizante.

Mal sabe aquele que indaga que esse peso que carrego em meu olhar e espalho no ar é que me mantem são. É confortável guardar mágoas, rancores, certezas de porquês porondes e portantos cimentando decisões tomadas por nós (ou terceiros) a respeito de nossas vidas. Talvez confortável não seja a palavra, mas é um exercício sustentável de desgastes previsíveis. O coração enrijece, caleja, e nós chamamos de amadurecimento... e amadurecer, ao contrário da depressão, é natural. Agruras dos desígnios de Deus, todos envelhecem, são as asperezas das areias do tempo, o insaciável tempo a enterrar as crianças que um dia fomos... só não nos contam que as enterramos vivas, sim, nós, e não o tempo.

Saber de tanto, ou pensar em tanto sob vieses góticos, dramatizar a vida para entendê-la, e então fruí-la, é que me faz ser assim. O peso não só me faz ficar mais rente a terra como me mantém fiel a mim mesmo em minha significação particular do mundo. Mas não é só isso. O talento, ou minha falta de juízo em ir de encontro às musas de minhas inspiração, sereias a cantar de seus rochedos pra onde navego a cada madrugada, poderia ser usado para trovar, troçar, fugir da angústia, fugir de mim por fingir outras dores, fingir amores e graças. Make it 'till you become it - eis o mote. Mas sigo escolhendo conscientemente a mágoa. Por que tanta mágoa? Agora eu é que me pergunto.

Poderia eu mais que guardar a mágoa, guardar amor, ser amor, um amor que deveras sinto e senti. Poderia? O amor é inconstante, energia pura que não se armazena, gera-se, gasta-se, nas profundezas da alma. Querer guardar amor é o mesmo que tentar armazenar a energia de um raio em uma bateria, é ridículo! Assenhorar-se de um sentimento, não só o amor, mantê-lo no peito incólume sem tomar parte de sua produção/alimentação, é insustentável. A mágoa, por outro lado, é um circuito fechado.

Manter-se amuado é uma técnica de sobrevivência. A mágoa te priva de pensar, de refletir e, eventualmente, de sentir. O magoado se abriga das tempestades de sentimentos em suas certezas de como foi e será, aos poucos, dissuadindo nossa bateria interna de produzir essa energia perigosa. Eventualmente, a mágoa morre de inanição e o amor que inibia já não está mais lá, parou de ser produzido. Dói menos assim.

Amores indômitos fecham nossos olhos para as consequências de existir fazendo-nos acreditar que tudo é possível. Amores indômitos tornam a nós assoberbados também... ao ponto de esquecermos do outro, do objeto que também é sujeito desse amor... um outro que pode ir embora. E eis-me aqui, sozinho.

Ser deixado te coloca na dura decisão de cultivar esse amor sozinho, alimentar no peito o que antes pulsava em dois, sustentar o insustentável escolhendo amar dia após dia mandando cartas de amor imaginárias que nunca chegam ao remetente ou... magoar-se na cactácea angústia que não precisa de muito e resolve tudo, ocupa, mascara, dissimula: cura. A mágoa pode ser espinhosa, mas é um bálsamo para corações partidos.

No entanto, cá estou eu, nessa carta de amor que nada tem de imaginária e muito provavelmente chegará àquela a quem pertence a mágoa e a quem pertence também o amor. Talvez eu goste de sofrer ou talvez, é nessa segunda que tendo a acreditar, eu goste dela de um jeito que só uma mágoa igualmente insustentável poderia esconder, eu não sei. A mágoa se foi agora com as certezas, o que sinto mesmo é saudade.

Será um longo e demorado adeus.

1 comentários:

YNK06NYT0 disse...

Pensei inicialmente que estava parafraseando ou fazendo referência ao Long Goodbye do Raymond Chandler, bom pelo menos a atmosfera noir, você manteve, eu não sei bem ao certo, embora seja um romance sobre ausência de alguns sentimentos, ou poderia ser até do vazio... Bom enfim, ainda bem que continua escrevendo, como não nos vemos pessoalmente, seja pelas agendas, ou por intervenções do destino, gosto de ler o que escreve, e é por isso que eu sempre que posso coloco comentários aqui ao invés de no facebook por exemplo, é algo mais essencial( eu ia escrever intimo, mas definitivamente não ia soar bem) mais pessoal, me sinto mais a vontade e menos exposto. Continue com o oficio da escrita, ele lhe cai muito bem. Até a próxima rapsódia.