Ingrata, suja e amoral, me envereda pelos mais tórpidos caminhos. Vício no seu canto noturno e retorno a me afogar em poesia e morte. Trago palavras e ideias, exalo os fragmentos de uma alma sem valor, tudo ao sabor das desilusões do dia.
Pensei que haveria uma grande recepção desde lado adormecido que agora desperto, mas a indiferença é completa. Nem mesmo a desistência consiste mudança, prova de que a jornada foi em vão. Se não existe salvação é por não haver vida para ser salva.
A imundice não atiça o espírito como antes, apenas degrada àqueles que me rodeiam. Tento privá-los da tristeza, mas isso seria privá-los de mim e, por consequência, privar-me deles. E justamente a solidão que tento combater, não é?
Diante disto, o que fazer? Armar um espetáculo tragicômico para não mentir e ainda assim entretê-los? Talvez. Já sou uma piada sem graça há muito tempo, mudar o repertório poderia até ser bem visto, pior não fica. Só que... saberia eu como mudar?
Emburreço a cada dia na medida em que atrofio meus sonhos e expectativas, para que pernas se não vou a lugar algum? Sob certos aspectos, minhas limitações vem a calhar. Inapto, justifico o fracasso de forma digna... digna de pena.
Enquanto não caio, recorro ao ordinário transformando-o em extraordinário em minhas fantasias. Um simples cigarro se converte em amante de uma sórdida aventura. Porque, convenhamos, continuar a sonhar com A esposa seria patético.
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